A
veracidade da estrela
Ela, a mulher sem forma, entrou num
sorvedouro de um buraco também informe, negro, com os mais cabeludos chavões de
literatura barata, talvez cósmico até (pensou consigo mesma, sem conter um
risinho de ironia). Cômico. Mas nada havia de estranho ou insólito nisso. Rodou
o corpo agora não mais em direção à palavra, oca e redundante, que até então
chamava poesia: mais um pedaço de papel pregado na parede. Nem isso. Tropeçou
naquilo que pensou ser um degrau, daqueles que estão sempre no lugar errado,
exatamente no caminho dos lunáticos, dos dispersos, dos... E não era bem um
degrau, mas o tapete estendido de uma sarjeta sinuosa e desejável, lodosa e
fedorenta como sempre. Despencou das nuvens e deu de cara exatamente no entulho
da viela urbana, onde um monte de lixo reinava, ou melhor, se erguia como um
trono. Sentou-se nele triunfante, coroada a rainha psicotrópica.
Depois se foi, claudicante, sem
lembrar jamais de versos, a não ser de leiras fundas sobre a terra fofa, pronta
para o plantio do jardim patético. E você nem pense que vou contar o episódio.
De fato, quero falar do olhar estrábico lançado sobre o monturo, olhar de quem
vê a vida cheia de (como poderíamos dizer?)
"vida mesmo". Foi um olhar de sangue.
E nunca mais pensou em nada.
Tenho dito.
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