sábado, 29 de setembro de 2012

A Veracidade da Estrela



A veracidade da estrela
                                                                                 

            Ela, a mulher sem forma, entrou num sorvedouro de um buraco também informe, negro, com os mais cabeludos chavões de literatura barata, talvez cósmico até (pensou consigo mesma, sem conter um risinho de ironia). Cômico. Mas nada havia de estranho ou insólito nisso. Rodou o corpo agora não mais em direção à palavra, oca e redundante, que até então chamava poesia: mais um pedaço de papel pregado na parede. Nem isso. Tropeçou naquilo que pensou ser um degrau, daqueles que estão sempre no lugar errado, exatamente no caminho dos lunáticos, dos dispersos, dos... E não era bem um degrau, mas o tapete estendido de uma sarjeta sinuosa e desejável, lodosa e fedorenta como sempre. Despencou das nuvens e deu de cara exatamente no entulho da viela urbana, onde um monte de lixo reinava, ou melhor, se erguia como um trono. Sentou-se nele triunfante, coroada a rainha psicotrópica.
            Depois se foi, claudicante, sem lembrar jamais de versos, a não ser de leiras fundas sobre a terra fofa, pronta para o plantio do jardim patético. E você nem pense que vou contar o episódio. De fato, quero falar do olhar estrábico lançado sobre o monturo, olhar de quem vê a vida cheia de (como poderíamos dizer?)  "vida mesmo". Foi um olhar de sangue.
            E nunca mais pensou em nada.
            Tenho dito.

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