quinta-feira, 27 de setembro de 2012

A palavra: variações sobre o mesmo tema



A palavra: variações sobre o mesmo tema

         O erro da palavra está em ser exatamente aquilo que é: som. Escrita, deixa de ser palavra, mas algo que talvez pudesse merecer outro nome. Vocábulo, talvez; mas também lembra voz, ruído. Melhor deixar palavra mesmo, com seu R rascante, triturante, incômodo. Porque toda palavra é absolutamente incômoda, especialmente quando dita sem muito pensar. E não é o que mais faço?
            Não deveria. Mas há outra alternativa? Quatro paredes acolchoadas e uma porta em que o estofamento esconde o aço. E aqui eu penso: as palavras jorram, já nem sei mais se de minha boca, ou apenas em minha mente.
            Um dia... numa tarde... Sei lá. Li isso ou apenas lembro de algo que realmente aconteceu. Creio que jamais vou saber. A não ser que aquela porta se abra e deixe entrar um pouco de ar nesse casulo. Claustrofóbico, creio que seria exatamente a palavra. Altamente claustrofóbico. Num dia... uma tarde... Isso volta sempre, e ainda  mais quando olho para aquele canto. Nem sei se direito ou esquerdo, ou qualquer coisa. Algo me prende as mãos. Poderia arranca-lo com os dentes? Certamente não.
Numa tarde... um dia. Isso é diferente, faz toda a diferença e o motivo pelo qual estou preso aqui. Vi, mas as cenas não surgem, só fragmentos de palavras.

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